

Carta de TIAGO
(Informações selecionadas de muitos ilustres estudiosos bíblicos, aos quais agradeço, adaptadas e reorganizadas por mim)
CURIOSIDADES E INFORMAÇÕES SOBRE A CARTA DE TIAGO
INFORMAÇÕES GERAIS
1. O livro de Tiago, foi, possivelmente, um dos primeiros livros do NT, escrito por volta de 45 dC, na mesma época em que Paulo escrevia sua Primeira Carta aos Tessalonicenses.
2. Tudo indica que a carta foi escrita em Jerusalém.
3. O livro de Tiago é um grande desafio para todos os cristãos, pois é objetivo, vai direto ao ponto no que chamamos “viver o que se prega” ou “praticar o que se crê”.
4. A exortação de Tiago é, para não nos acomodarmos e estarmos vigilantes. Ele enfoca muito os ensinamentos que Jesus ministrou no Sermão do Monte. Partes do Sermão é citado por ele.
AUTORIA
5. Sua autoria tem alguns questionamentos, mas, de todas as pessoas com o nome de Tiago no NT que poderiam ter escrito esta epístola, o mais provável é o meio-irmão de Jesus, Tiago, (Mt. 13.55). Explicando:
a) Este Tiago, era também irmão de Judas, escritor da Carta que tem seu nome (Jd. 1.1). Ambos são considerados pela tradição cristã como meios-irmãos de Jesus.
b) Os irmãos de Jesus, só creram Nele como Filho de Deus e Salvador depois da Sua ressurreição. Assistiram Sua ascensão e participaram do derramar do Espírito Santo.
João 7.5: Pois nem mesmo seus irmãos criam nele.
c) Os irmãos de Jesus, na verdade, eram seus meio-irmãos, pois eram filhos biológicos de Maria e José e Jesus apenas de Maria.
d) Este Tiago, autor do Livro, depois de sua conversão, se tornou líder da Igreja em Jerusalém (I Co. 15:7; At. 12:17; 15:3-21; 21:18; Gl. 2:9-12).
6. A Igreja Católica quer que se creia que seus irmãos eram, na verdade, primos, e que Maria teria mantida sua ‘conceição imaculada’, até o fim, isto é nunca teria tido nem relações sexuais nem concebido outro filho. Para isso, afirmam que a palavra “irmãos” (de Jesus), no grego, também pode ser traduzida por “primos”. É forçar muito o texto para manter também a divindade de Maria.
7. Além do Tiago, que era meio-irmão de Jesus, autor da Carta que leva seu nome, há outros ‘tiagos’ menciona dos no NT, a saber:
a) Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João, (Mt. 4:21; Lc. 6:14), que foram, ambos, apóstolos de Jesus. Este Tiago, sofreu martírio, por causa da perseguição contra a Igreja de Cristo, de acordo com Atos 12.1-2 (antes da Carta ter sido escrita). Ele foi morto por ordem de
Herodes Agripa.
b) Tiago, filho de Alfeu, que como alguns outros apóstolos, como Matias, não tem sua atividade na e com a igreja primitiva, registrada. Também, não há afirmações na epístola de que o autor se identifique como alguém que tenha sido Apóstolo (Mt. 10:1-4; At.
1:12-14).
c) Tiago, o menor, isto é, o mais baixo em termos de estatura física, ou o mais jovem, um seguidor de Jesus, filho de Maria, e irmão de José mencionado em Mc. 15.40:
40. Algumas mulheres estavam observando de longe. Entre elas estavam Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, o mais jovem, e de José.
d) Tiago, o pai de Judas, não o que traiu a Jesus, mas de outro Judas (Lc 6.16).
8. Os nomes “Tiago” e “Jacó” são a tradução da mesma palavra na língua grega.
a) No NT Grego, onome do escritor da Carta é Ἰάκωβος. Este é um nome judaico muito comum naqueles dias e até hoje entre os judeus.
b) Esse é o nome de Jacó, filho de Isaque e Rebeca (Gn. 25), que é citado várias vezes no NT (Mt. 8:11; 22:32; Lc. 1:33; At. 3:13; Rm. 9:13; 11:26; Hb. 11:9).
c) A tradução é sempre ‘Jacó’, quando se trata do patriarca do AT, mas sempre ‘Tiago’, quando não se trata do patriarca. O contexto vai determinar qual o nome certo a ser traduzido.
d) Segundo vários autores, o certo seria traduzir tudo por:
‘Jacó, pois, certamente, para a Igreja primitiva não havia dois nomes diferentes.
e) No Hebraico o nome é: יַעֲקֹב (lê-se: Yakov – Gn. 25:26) e foi traduzido para o grego na LXX por Ἰακώβ.
DESTINATÁRIOS
9. A Carta de Tiago foi escrita às doze tribos que se encontram na dispersão, ou diáspora (Tg. 1:2).
10. Não se pode interpretar este texto literalmente. No tempo do NT havia apenas alguns remanescentes das tribos de Judá, Efraim e Levi.
11. A expressão “as doze tribos que andam dispersas”, isto é, na diáspora - διασπορά - pode e deve ser compreendida como uma referência à Igreja de Cristo, aos crentes em geral, judeus e gentios, nos anos 40 do 1º Século ainda estavam se reunindo juntos no Templo, em sinagogas e casas.
12. Só um pouco mais tarde é que os cristãos, expulsos das sinagogas, se reuniam mais em casas e em outros lugares, até em catacumbas, fugindo da perseguição, tanto do Império Romano quanto dos judeus não convertidos ao Messias Jesus.
13. A palavra διασπορά (diáspora) aparece apenas três vezes no NT Grego: João 7:35; Tiago 1:1 e I Pedro 1:1.
14. Jerusalém foi o centro do Cristianismo em seus primeiros anos ou em suas primeiras décadas, e os seus líderes principais foram: Tiago, o irmão de Jesus, Pedro, João e Paulo.
15. A carta de Tiago, sob alguns aspectos, pareça judaica, na verdade, retrata o nascedouro do Cristianismo e não o judaísmo, porque:
a) chama os seus leitores, judeus e gentios, de irmão e irmãos 19 vezes (1.2, 9, 16, 19; 2.1, 5, 14, 15; 3.1, 10, 12; 4.11; 5.7,9, 10, 12 e 19).
b) fala do Senhor Jesus Cristo e de Sua Segunda Vinda (1.1; 5:7,8) e
c) faz referência à Igreja, aos presbíteros, isto é, aos pastores e aos líderes de uma Igreja cristã.
16. Os escritores do NT (Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Tiago, Pedro e Judas), todos eles, e os crentes em geral, (a Igreja de Jesus Cristo), se viam como herdeiros das promessas de Deus feitas à nação de Israel. Eles se viam como o Rebanho do Senhor, o Povo de Deus, em quem as promessas de Deus no AT tinham se cumprido.
CONTEÚDO
17. A Carta de Tiago não é uma obra doutrinária, embora contenha ensino doutrinários, mas é, principalmente, um livro com conselhos gerais para os crentes e de encorajamento, pois, no primeiro século, os cristãos sofreram perseguição de toda sorte.
18. Essa Carta lembra o livro de Provérbios e é considerada uma obra sapiencial;
19. A palavra sabedoria - σοφία (sofia) -aparece logo no seu início (Tg. 1:5) e mais três vezes no capítulo 3 (Tg. 3:13, 15, 17).
20. Principais assuntos presentes nessa Carta:
a) o sofrimento pela provação e tentação (Tg 1.2-4 e 12-16);
b) o tratamento devido aos órfãos e viúvas (Tg 1.27), pois eles eram os mais vulneráveis naquela época, em que muitos homens morriam cedo nas guerras e de doenças deixando órfãos e viúvas desamparados, já que não havia qualquer plano de assistência a eles por parte do governo;
c) o dever de não menosprezar os pobres (Tg 2,1-13);
d) a importância das obras como expressão da nossa fé; pois a fé sem obra é nada (Tg 2.14-26);
e) o cuidado no uso da língua, em nosso falar, pois as nossas palavras podem dar vida ou tirá-la; curar ou ferir, etc. O uso errado da língua tem a ver com a sabedoria deste tempo que é mundana, terrena e maligna. O uso certo, proveitoso e inteligente da língua, tem a ver com a sabedoria de Deus que se revela na vida de uma pessoa que sabe o que, como, quando, porquê, quanto, para que e com quem falar e quando temos sabedoria no falar, promovemos a paz (Tg 3,1-18);
f) o valor do interior de nosso ser e não apenas do exterior. (Tg 4.1-17);
g) a volta do Senhor Jesus (Tg. 5:1-20).
21. A Carta caminha para o final como começou: falando da alegria, da felicidade mesmo em meio ao sofrimento:
Tiago 1.2-3:
'Meus irmãos, tende grande alegria quando cairdes em várias tentações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência.
Tiago 5.10-11:
'Meus irmãos, tomai por exemplo de aflição e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor. Eis que temos por felizes os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.
FÉ E OBRAS
22. Para entender a expressão de Tiago “a fé sem obras é morta”, algumas considerações:
a) A palavra ‘obras’ na Carta, deve ser compreendida como frutos, resultado, de uma vida de fé em Jesus genuína.
b) O escritor apela aos crentes para que sejam não apenas ouvintes da Palavra, mas praticantes; não apenas religiosos, mas cristãos, verdadeiros seguidores de Cristo.
c) A fé e as obras são duas partes de uma mesma realidade: nossa vida com Deus. Como duas faces da mesma moeda. A fé é como a raiz de uma árvore, invisível. As obras são os frutos da árvore, visíveis.
23. Tiago fala de ‘sinagoga’ e ‘igreja’ (Tg. 2:2; 5:14).
a) A palavra ‘sinagoga’ – συναγωγή – em Tg 2.3, é usada para se referir ao lugar de reunião dos crentes e exatamente como acontece com a palavra Igreja (Tg 5.14) - ἐκκλησία (eclesia).
b) O uso desta palavra – συναγωγή (sinagoga) como um lugar comum de culto para os crentes judeus e gentios aponta para um tempo em que o cristianismo não havia ainda se separado do judaísmo completamente como uma religião distinta, antes dos anos 70 e depois de 40.
SENHOR DOS EXÉRCITOS
24. A expressão “O Senhor dos Exércitos” - Κυρίου Σαβαὼθ – (lê-se: kirio sabaoth) que no hebraico do AT é: צְבָאות יְהוָה (lê-se: Yerovar tseva´oth - se conseguir ler), que está em Tg 5.4, aparece cerca de 300 vezes no AT e duas vezes no NT (Rm 9.29/Tg 5.4).
a) O texto do NT de Rm 9.29 onde esta expressão aparece - o apóstolo Paulo está citando Isaías 1:9.
b) Já, o texto de Tg 5.4 não é uma citação do AT, trata-se de uma admoestação do escritor que faz uso deste vocabulário comum no AT para infligir temor aos seus leitores que exploravam os pobres e amavam as riquezas adquiridas de maneira injusta. Tal uso desta expressão por parte de Tiago revê-la a influência do pensamento teológico judaico na Carta de Tiago e aponta para um tempo inicial do Cristianismo.
25. ‘Perfeitos’. A expressão tem em vista aqueles que queriam ser mestres, porém, para esse exercício ministerial é imprescindível ser ‘perfeito’. Ser ‘perfeito’ no contexto é não tropeçar na palavra da verdade (Tg 3.2), isto é, interpretá-la e vive-la corretamente e assim estará apto a instruir.
ESBOÇO DACARTA
26. Um esboço, mais detalhado da Carta:
a) Saudação aos cristãos judeus da dispersão (1.1)
b) Alegria nas tribulações (1.2-4)
c) Oração pedindo sabedoria (1.5-8)
d) Desinteresse pelas riquezas materiais (1.9-11)
e) Distinção entre provas e tentações (1,12-18)
f) A obediência à Palavra (1.19-27)
g) Amar sem ser parcial para com os ricos (2.1-13)
h) As obras como autenticidade da fé (2:14-26)
i) A sabedoria (3:1) Sabedoria no controle da língua (3:1-12)
j) Sabedoria na mansidão (3:13 e 4:10)
k) Evitando a calúnia (4:11-12)
l) A confiança sem base (4:13-17)
m) Paciência (5:1-11)
n) Honestidade (5:12)
o) A oração pelos doentes e confissão de pecados (5:13-18)
p) Cristãos que errarem (5:19-20)