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Por uma Educação Integral e Integrada

 

     Educação integral e integrada é muito mais profunda do que, simplesmente, a prática de os alunos passarem os dois turnos do dia (manhã e tarde) na escola. Pode acontecer que os alunos passem o dia na escola sem que os princípios da educação integral e integrada sejam aplicados.
   Tem a ver com a adoção, pela instituição de ensino, de uma proposta político-pedagógica que incorpore a educação integral e integrada em sua visão e prática educacional. Começa em considerar a pessoa (o aluno) como um ser integral e integrado, em que todas as dimensões de sua vida se relacionam, influenciam-se e interagem entre si.

Por que uma educação integral e integrada?

   Ainda que didaticamente desmembremos a pessoa em suas dimensões física, mental, emocional, social e espiritual, essas vertentes não podem ser vistas de forma desconectada e dissociada, ou seja, funcionando independentemente uma da outra. Há uma intensa mutualidade entre elas.
   Somos não somente um ser integral, mas integrado. Tudo em nós é integrado, interdependente e inseparável. O que acontece no corpo afeta a mente, a emoção, a espiritualidade e o convívio social e por estes é afetado. O cérebro tem relação direta com o físico, a sensibilidade, a espiritualidade e a capacidade de se relacionar socialmente; estes da mesma forma com a mente. As emoções influenciam o corpo, os sentimentos, a alma e a sociabilidade e por estes são influenciadas.
    O espiritual, dimensão que nos distingue dos animais, interage com o físico, com o pensar, com os anseios do coração, com nossa capacidade de adaptação social e com o exercício da cidadania. A convivência social de um indivíduo determina como ele cuidará de seu corpo, que tipo de lógica conduzirá seus pensamentos e decisões, como exprimirá suas paixões e de que maneira expressará sua religiosidade, assim como poderá influenciar as suas mudanças sociais.

Os desafios de uma escola integral e integrada

   Todos os métodos e técnicas de ensino e aprendizagem e todos os programas e projetos educacionais que desconsiderarem qualquer uma das dimensões do ser humano estarão vulneráveis em algum aspecto. O Ensino à Distância (EaD), por exemplo, ainda que privilegie a aquisição do conhecimento, não ajuda as dimensões sociais e emocionais do indivíduo, existentes no ensino presencial. Escolas laicas ou seculares, em geral, não se preocupam muito com a espiritualidade humana e com a sua dimensão emocional. Escolas conteudistas, focadas na transmissão e aquisição de conhecimentos, e na preparação para exames classificatórios, nem sempre adequam seus alunos para a totalidade da vida. Escolas com fins lucrativos, em função de custos, privilegiam algumas áreas que julgam fundamentais para a manutenção do aluno e da receita e desprezam outras, como a formação do caráter, o desenvolvimento da espiritualidade e a educação emocional, cujos cuidados demandam mais recursos e aumentam suas despesas.
  Provavelmente, instituição educacional alguma consiga ser eficiente quanto à formação de seus alunos, com desempenho igualmente alto em todas as dimensões de suas vidas. Um projeto de ensino que tem a preocupação com a totalidade do ser humano, no entanto, buscará, em seu currículo, em seu ambiente e cultura escolares e em seu calendário, contemplar ações e intervenções necessárias para alcançar todos os aspectos ligados à formação integral.
  Além disso, as escolas preocupadas com a formação integral e integrada privilegiam métodos de ensino, processos didáticos de seus professores, materiais pedagógicos e ambientes de aprendizagem adequados a essa visão. Seus gestores, professores e sua equipe de apoio técnico-pedagógico e administrativo geralmente estão comprometidos com essa perspectiva.
   Para que uma boa educação integral e integrada aconteça, o ideal seria que os alunos em idade escolar passassem mais tempo na escola e não somente quatro ou cinco horas por dia. Daí a necessidade de escolas em tempo integral.

A estrutura de uma escola de formação integral e integrada

   Nas instituições de ensino que enfocam a integralidade do ser humano é muito maior a participação e o envolvimento da família, como parceira ativa de todo o processo educacional. Em escolas preocupadas com a formação integral e integrada, estão presentes vários ambientes de aprendizagem compatíveis com a filosofia que abraçam. Áreas de convivência são construídas para facilitar a interação entre os alunos. Espaços para práticas esportivas de variadas modalidades e matizes, incluindo jogos de raciocínio, são mais generosos. A biblioteca está interligada à rede de internet. Há ambientes específicos e especializados, como: laboratórios de informática, de química, física, biologia, biotérios, de desenvolvimento da inteligência, espaços de exposição, auditórios, salas de artes plásticas e cênicas, capelas para práticas de atividades de cunho espiritual, além de uma equipe de capelania para apoio emocional e espiritual dos alunos, visando ao despertamento e aprimoramento de pendores nos educandos, em menor ou maior intensidade, de acordo com as suas possibilidades.
   Nas escolas preocupadas com a formação integral e integrada se fazem presentes vários equipamentos que coadunam com este viés formativo, como: laboratórios de informática, de ciências, de idiomas, bibliotecas com ambientes variados e conectados ao mundo virtual, auditórios, salas para reuniões, espaços para saudáveis expressões artísticas (trabalhos manuais, expressões corporais, sentimentais e intelectuais) e espirituais, além de áreas de lazer e lúdicas, com jogos e brincadeiras educacionais, quadras poliesportivas, campos para práticas esportivas variadas, piscinas e parquinhos adequados a cada faixa etária.

As instituições envolvidas no processo de formação integral e integrada

  É possível pensar que a formação moral, social e emocional das pessoas, especialmente crianças, estejam sob a responsabilidade exclusiva da família; que a formação religiosa ou a preocupação com a sua espiritualidade esteja a cargo somente das igrejas e religiões; e que o seu aperfeiçoamento para cidadania caiba prioritariamente ao Estado com suas leis e seus sistemas de controle. Esta distribuição especializada de tarefas e a compartimentalização do processo educacional, entretanto, mostraram-se ineficazes quando desintegradas, uma vez que todas as instituições influenciam a formação integral da pessoa, de alguma forma.
   É por esta razão que os quatro pilares da educação, preconizados pelos órgãos nacionais e internacionais de educação, defendem os fundamentos de uma aprendizagem integral e sua imprescindibilidade: aprender a aprender, aprender a ser, aprender a viver e aprender a conviver.
   Todas as organizações da sociedade têm (para o mal ou para o bem), além da escola, função formativa. O governo e todos os seus órgãos, as igrejas, as famílias, as empresas, as variadas associações e entidades, no exercício de suas finalidades também exercem função educativa. Ainda que tenham sua função axial, especializada, privilegiando um aspecto das necessidades humanas, todas elas devem estar cientes que fazem parte de uma rede de formação e socialização que vê o ser humano como um ser integral com variadas necessidades e dimensões que mutuamente cooperam entre si e estão integradas, visando ao bem-estar do indivíduo e à saudável convivência social.
  Cabe, portanto, à família a primazia na formação inicial e geral dos seus membros. Em geral, passamos a maior parte do tempo de nossa infância e juventude nela.
   Na escola é onde as crianças, adolescentes e jovens, passam o segundo maior tempo de suas vidas (cerca de cinco horas por dia, cinco a seis dias por semana). De forma mais especializada, a escola se incumbe de transmitir os saberes humanos e cada vez mais, em função das crises familiares contemporâneas, da formação do bom caráter, da socialização para a cidadania e da convivência adequada em sociedade, a fim de os prepararem para a construção de um mundo melhor para todos.

  Conclusão

   As redes sociais, via internet, e o mundo cibernético passaram a exercer, nos últimos anos, maior influência positiva e negativa em todos, sob muitos aspectos e áreas, do que a exercida pela família, pela escola, pela igreja e por outras instituições de apoio humano. É preciso que esses novos meios sejam integrados de forma saudável e construtiva ao processo de formação. Por outro lado, as demais instituições devem preparar os alunos a filtrarem a atual explosão de informações.
  O processo educacional precisa ter programas e ações que contemplem a integralidade do ser humano e que incentivem a integração deste com toda a vida e seus agentes de formação e que todos estejam comprometidos com a formação para a solidariedade, para a justiça, para a equilibrada espiritualidade e para a felicidade.

Walmir Vieira
Diretor fundador do CLIC (Centro de Liderança Cristã)
clicwv@hotmail.com (Pessoal)

 

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