"Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas onde o pecado abundou, superabundou a graça."

Romanos 5.20

Os papéis da lei e da graça são claramente delineados em Romanos 5.20. Em diversas passagens, Paulo confirma que a lei tem como função ampliar a consciência do pecado, sem, contudo, conceder ao pecador o poder necessário para vencer suas inclinações pecaminosas. Como ele afirma em Romanos 3.20: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.” Ainda que esse papel da lei seja relevante, o foco maior do texto não está nela, mas na relação entre o homem pecador e a graça de Deus. A correta compreensão da doutrina do pecado (Hamartiologia) exige que se observe essa correlação entre pecado e graça, pois trata-se, essencialmente, da conexão entre natureza caída e intervenção divina. Essa conexão é fundamental para a teologia bíblica. Destaca-se, no entanto, no texto de Romanos 5.20, a expressão: “mas onde o pecado abundou”. Por que Paulo utiliza a expressão “onde” — uma indicação de lugar — e não “em quem”, como se estivesse se referindo a uma pessoa específica? A escolha não é casual. O termo aponta para uma realidade abrangente: o mundo inteiro, como consequência da queda, geme e aguarda redenção. O pecado não afetou apenas um indivíduo, mas toda a humanidade. E é nesse contexto universal de perdição que a graça de Deus se manifesta com ainda mais abundância. Ela não superabundou apenas sobre o pecado de um homem, mas sobre o pecado de todos os homens. Brennan Manning expressa isso com sensibilidade: “A graça é suficiente até para o mais miserável dos miseráveis. A vergonha pode dizer: ‘Deus jamais poderia me aceitar.’ A graça responde: ‘Onde abundou o pecado, superabundou a graça.’” Diante disso, a pergunta se impõe: você se reconhece como pecador? Reconhece que a medida da graça é proporcional à sua necessidade — uns mais, outros menos? Concluo com as palavras de Charles Spurgeon, que capturam o coração desse texto: “A graça não apenas cobre o pecado; ela o vence. O monte do pecado pode ser alto, mas a graça é mais alta que os céus. Onde abundou o pecado, a graça não chegou só até a borda — ela transbordou.” Amém e amém.

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ELP