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LAMENTAÇÕES

(Pesquisado, organizado e adaptado por Walmir Vieira)

CURIOSIDADES E OUTRAS INFORMAÇÕES

 

Introdução

- Lamentações é um livro que traduz a essência da angústia e do luto coletivo diante da queda e destruição de Jerusalém e do Templo em 586 a.C.

- A palavra "Lamentações" significa lamentar em voz alta, expressão de profunda tristeza.

- Os temas centrais em Lamentações são:

a) A dor, a perda, a culpa, mas, também, a esperança; e,

b) a justiça e misericórdia de Deus para com o Seu povo.

 

AUTORIA

1. A autoria é, tradicionalmente, atribuída ao Profeta Jeremias, ainda que o próprio texto não mencione explicitamente seu nome. Essa quase unanimidade se deve as seguintes razões:

a) A evidência bíblica e a extrabíblica apontam para Jeremias como o autor.

b) Ele escreveu o livro de Lamentações logo após a queda da cidade, que ele testemunhou (1: 13-15; 2: 6, 9; 4: 1-12).

c) O amanuense (secretário) de Jeremias, Baruch, possivelmente o ajudou a escrever o Livro.

d) As seguintes traduções, versões e comentários do AT, confirmam a autoria de Jeremias:

d1) A Septuaginta (tradução do AT, do hebraico para o grego) faz referência a Jeremias como o autor do primeiro versículo.

d2) O Targum aramaico (tradução do hebraico (AT),

d3) a Peshitta (versão de toda a Escritura para as igrejas sírias),

d4) a Vulgata (tradução da  Bíblia das línguas originais para o latim, entre fins do século IV e o início do século V, por Jerônimo)

d5) O/a Talmude (que significa ‘ensino’), uma coletânea de livros considerados sagrados pelos judeus, que registra as discussões rabínicas sobre a lei e a ética judaica, isto é, a tradição oral judaica)

e) Os pais da igreja primitiva, como Orígenes e Jerônimo, atestaram a autoria de Jeremias

 

2. Jeremias não apenas profetizou a destruição, mas também viveu e permaneceu com o resto do povo que ficou em Jerusalém. Depois acompanhou este povo (ou foi levado) quando o remanescente do povo fugiu para o Egito, depois de uma tentativa de rebelião malsucedida.  

- Sua capacidade de expressar emoções humanas universais torna suas Lamentações relevantes até os dias de hoje.

 

DATA

3. Quase todos os estudiosos de Lamentações acreditam que a data da escrita ocorreu entre 586 e 538 a.C. Ou seja, durante o período do cativeiro da Babilônia, principalmente no período em que estava com o remanescente do povo no Egito.

 

CONTEXTO HISTÓRICO

4. Jeremias viveu em um período de grande turbulência, marcado pela invasão babilônica e pela queda de Jerusalém.

 

5. Este Livro emerge de um tempo trágico da história de Israel, que além da destruição de Jerusalém, a nação viu a destruição do Templo em 586 a.C. construído por Salomão (já um tanto empobrecido de sua riqueza original, pelos saques sofridos na história), em 586 a.C. pelas mãos do Império Babilônico, sob o comando de Nabucodonosor II.

 

6. Esse cerco foi prolongado, pois visava submeter a cidade através da fome e do desespero. Foi um período de grande sofrimento, onde a falta de recursos básicos levou a situações extremas de miséria e ações que marcam a decadência humana, dentro das muralhas da cidade.

 

7. O massacre da população e o exílio para a babilônia de grande parte dos sobreviventes, principalmente os mais preparados e habilidosos, despojaram Judá de suas lideranças política, social e espiritual.

 

8. A perda do Templo, visto como a morada terrena de Deus, lançou dúvidas profundas sobre a natureza da relação entre Deus e seu povo.

 

9. Essa crise e a busca de sentido em meio ao caos, perpassa o livro de Lamentações, refletindo a luta para reconciliar a compreensão da justiça, da misericórdia divinas com a realidade da desolação, do sofrimento e o aparente silêncio de Deus.

 

10. RESUMO E ESTRUTURA

- O livro de Lamentações é uma obra poética profundamente comovedora, que se destaca não apenas pelo seu conteúdo emocional, mas também pela sua bela estrutura acrostica.

- Esta estrutura, em que cada capítulo se organiza em torno do alfabeto hebraico, simboliza uma tentativa de capturar a totalidade do sofrimento experimentado pelo povo de Jerusalém e Judá após a destruição da cidade e do Templo em 586 a.C. pelos babilônios.

- Cada poema reflete diferentes facetas dessa dor coletiva e da relação entre o povo e Deus, tecendo um tapeçário de luto, reflexão e súplica.

 

1. Luto pela Cidade Destruída

- No primeiro capítulo, Jerusalém é personificada como uma viúva que lamenta profundamente sua desolação e abandono.

Como está solitária a cidade que era cheia de gente! Como se tornou como viúva a grande entre as nações! A princesa entre as províncias se tornou tributária!

(Lm 1.1)

- Esta imagem evocativa captura a magnitude da perda e do desamparo, destacando o isolamento e a tristeza que acompanham a destruição da cidade.

 

2. A Ira de Deus Manifestada

- O segundo capítulo atribui a causa dessa devastação à ira divina, uma resposta direta ao pecado e à infidelidade do povo.

O Senhor na sua ira destruiu sem piedade todas as moradas de Jacó; derrubou no chão, na sua indignação, as fortalezas da filha de Judá, e lançou por terra, profanou o reino e os seus príncipes

(Lm 2.2)

- Este poema confronta o leitor com a realidade severa do julgamento de Deus, convidando à reflexão sobre as consequências do pecado.

 

3. O sofrimento pessoal e coletivo

- O terceiro capítulo oferece uma mudança na perspectiva, centrando-se na experiência pessoal de sofrimento, que também reflete o sofrimento coletivo do povo.

Sou o homem que viu a aflição pela vara do seu furor. Ele me guiou e me fez andar em trevas e não na luz.

(Lm 3.1-2)

- Este capítulo, através da voz de um indivíduo, toca na universalidade da dor humana, ao mesmo tempo em que introduz um vislumbre de esperança na misericórdia de Deus. 

 

4. As consequências do pecado para a comunidade

- O quarto poema lamenta as profundas consequências sociais do pecado, com especial atenção aos mais vulneráveis, como as crianças, que sofrem desproporcionalmente.

Ainda saem as crianças à procura de pão, e ninguém lhes reparte o que comer.

 (Lm 4.4)

- Esse capítulo chama a atenção para a dimensão social do sofrimento, sublinhando como as falhas morais e espirituais de uma comunidade afetam todos os seus membros.

 

5. Oração por restauração

- O último capítulo é uma súplica fervorosa a Deus por restauração e renovação.

Restaura-nos a ti, ó Senhor, e seremos restaurados; renova os nossos dias como dantes 

(Lm 5.21).

- Encerrando o livro com uma nota de esperança, este poema destaca a fé resiliente do povo na misericórdia e redenção divinas, apesar da escuridão que os rodeia.

- Lamentações, portanto, serve como um poderoso lembrete das consequências do afastamento de Deus, ao mesmo tempo em que enfatiza a importância da fé, do arrependimento e da esperança na restauração. Através da sua estrutura acróstica e da variedade dos seus poemas, o livro convida os leitores a uma jornada de luto, reflexão e súplica, reafirmando a constante presença de Deus mesmo nos momentos de maior desespero.

(Extraído do site “BÍBLIA Pura e Simples)

 

11. ESBOÇO DETALHADO:

I. Um lamento por uma cidade outrora grande que se esqueceu de seu Deus (Lm 1: 1-22).

a) A outrora grande cidade foi destruída (Lm 1.1-10).

b) Jeremias lamenta a destruição e a falta de conforto (Lm 1.11-22).

 

II. O motivo do lamento é explicado (Lm 2: 1-22).

a) Deus trouxe essa destruição sobre a cidade (Lm 2.1-22).

b) Jeremias lamenta que o pecado do povo fez com que Deus guardasse Sua palavra (Lm 2: 11-22).

 

III. Um lamento porque Deus está contra mim (Lm 3: 1-66).

a) Deus é meu inimigo, mas ainda espero Nele (Lm 3: 1-24).

b) O Senhor é bom para aqueles que O buscam (Lm 3.23-38).

c) Vamos nos arrepender e voltar para Deus (Lm 3.39-47).

d) Um lamento para que Deus trate de nossos inimigos (Lm 3.48-66).

 

IV. O motivo da ira do Senhor é explicado (Lm 4: 17-22).

a) Nosso pecado foi muito grande (Lm 4: 1-16).

b) Fomos punidos por causa do nosso pecado (Lm 4.17-22).

 

V. Um lamento a Deus para lembrar (Lm 5: 1-22).

a) Deus, veja nossa reprovação (Lm 5: 1-18).

b) Deus, restaure-nos como antigamente (Lm 5.19-22)

(Extraído e adaptado de site Estudos bíblicos online)

 

OUTRAS CURIOSIDADES

12. O livro inteiro de Lamentações foi escrito em poesias muito bem construídas. Os quatro primeiros capítulos formam acrósticos. Um acróstico é uma forma poética na qual as primeiras letras de cada linha formam uma sequência significativa.

 

13. O livro de Lamentações contém composições de acrósticos com base nas 22 letras do alfabeto hebraico, em ordem alfabética, como os Salmos 19 e 119.  

a) Os capítulos 1, 2 e 4 contêm 22 versículos cada e cada um dos versículos começa com uma letra diferente.

b) O capítulo 3 contém 66 versículos. Nesse capítulo os três primeiros versículos começam com a primeira letra do alfabeto hebraico, os próximos três versículos começam com a segunda letra e assim por diante. 

c) O capítulo 5 contém 22 versículos, mas não é um acróstico (cada versículo começa com letras aleatórias)

 

14. O uso desse esquema literário também demonstra o uso atencioso da linguagem ao clamar a Deus.

 

15. Nessa expressão poética do pesar, do choque e do sofrimento do povo, Lamentações se parece com outros livros poéticos do AT, como Jó e Salmos, como os de números 74 e 79, mas, diferentemente desses livros do AT, Lamentações não contém nenhuma resposta do Senhor; ele fala apenas do sofrimento e do desejo do povo antes de receber a misericórdia do Senhor.

 

16. Esse canto triste se lê em voz alta em ocasião de luto e em todas as sinagogas do mundo no dia 9 de Av (julho), pois é o dia aproximado em que ocorreu a tragédia de Jerusalém, chamado o dia de Tishá B’Av.

 

17. Tishá BeAv (Tradução: “Nono (dia) de Av”. Um dia de luto e jejum, que acontecem, no calendário atual, em 26 de julho de cada ano, lembrando as tragédias na história de Israel, ou seja: destruição do primeiro templo em 586, do segundo, mais modesto, construído por Zorobabel (deteriorado pelo tempo e o desuso) e do terceiro, construído por Herodes, o Grande, para agradar os judeus, mas destruído pelos romanos em 70 d.C.

18. A descrição da tristeza de Jeremias era também a descrição da tristeza de Deus naquele momento, ao ver seu povo sendo afligido e não poder fazer nada, porque foi o povo que plantou o que estava colhendo.

 

19. Esse livro é uma série de elegias que expressam a dor e o sofrimento do povo hebreu diante da devastação de sua cidade e templo.

 

20. Estilo poético ELEGIA:

a) A elegia é um texto poético e lírico, de caráter melancólico. Pode expressar sentimentos de melancolia amorosa, filosófica, fúnebre, heroica, moralista ou religiosa.

b) Através da expressão poética do sofrimento e da interrogação sobre o papel de Deus na calamidade, o livro proporciona uma válvula de escape para o lamento coletivo, ao mesmo tempo em que explora a possibilidade de redenção e restauração.

 

Conclusão

          Deus aplica sua justiça, mesmo em face da devastação. Isso nos sugere que, embora os caminhos divinos possam ser insondáveis, eles não são arbitrários ou sem propósito. Sem arrependimento e mudança de vida não há lugar para a misericórdia, somente para a justiça.

          Lamentações ocupa um lugar único na Bíblia, destacando a tensão entre desespero e esperança, julgamento e misericórdia, sofrimento e a promessa de consolo divino.

 

 

 

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