

JOÃO 1 a 21
(Informações de domínio público selecionadas, adaptadas e reorganizadas por Walmir Vieira)
CURIOSIDADES SOBRE O EVANGELHO DE JOÃO
1. CURIOSIDADES SOBRE A AUTORIA
a) João não se citou no evangelho que escreveu. Em geral ele se chamava de “discípulo a quem Jesus amava” (João 13.23), “discípulo amado” ou apenas “discípulo”. “Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu” (João 21.24).
b) A tradição cristã atribui a autoria ao apóstolo João, filho de Zebedeu, irmão de Tiago e sócio na atividade pesqueira com Pedro e André (estes três também se tornaram apóstolos de Jesus).
c) Irineu, 185 a.C., foi o primeiro a registrar, por escrito, João como autor. Ele escreveu: “Depois [depois que os Sinóticos foram escritos], João, o discípulo do Senhor, que também se apoiou em seu peito, publicou ele mesmo um Evangelho durante sua residência em Éfeso, na Ásia”. O testemunho de Irineu é significativo, pois foi discipulado por Policarpo que, por sua vez, foi discipulado pelo apóstolo João.
d) Alguns estudiosos contemporâneos levantam a hipótese de que o Evangelho de João foi escrito ou revisado por uma chamada “comunidade joanina” – um grupo de discípulos influenciados pelos ensinamentos de João, no século II, que, em unidade, redigiram esse texto, o que justificaria também a diferença entre os outros Evangelhos, mas ainda permanece como hipótese.
e) Quando o autor do Evangelho menciona o nome “João” em seus relatos, ele o faz referindo-se a João Batista (1.6, 15, 19, 26, 29) e ao pai de Pedro, que também se chamava João (1.42). Há ainda João Marcos, citado em Atos 12.12 (autor do Evangelho de Marcos, a partir dos relatos de Pedro) e João do Sinédrio (Atos 4.5,6).
f) João poderia não ter escrito o seu Evangelho de próprio punho. Poderia ter usado um secretário (amanuense), como Paulo fez em algumas ocasiões. A Igreja primitiva acreditava que o apóstolo João, já idoso, escreveu ou ditou o Evangelho em Éfeso, cidade da região onde hoje fica a Turquia.
g) O Evangelho foi claramente escrito por um judeu da Palestina que conhecia, além da cultura judaica, os conceitos da linguagem herética “pré-gnóstica” e ideias do mundo greco-romano.
h) João entendeu que suas vivências ao lado de Cristo não poderiam permanecer restritas a uma memória pessoal. Elas precisavam ser registradas, compartilhadas e transformadas em caminho de vida para muitos.
2. CURIOSIDADES SOBRE O APÓSTOLO JOÃO
a) O nome de João em hebraico é יוֹחָנָן. A transliteração é Yochanan e o significado é: “Aquele a quem Deus olha com bondade ou misericórdia”.
b) Como dito anteriormente, João era filho de Zebedeu (Mc 1.2). Sua mãe era Salomé (Mc 15.40 e Mt 27.56). Seu irmão se chamava Tiago. Juntos, tornaram-se os dois primeiros discípulos de Jesus (Mt 4.21).
c) Alguns estudiosos sugerem que Salomé era irmã de Maria, mãe de Jesus, tornando Tiago e João primos de Jesus.
d) A família de João se dedicava às atividades pesqueiras em Cafarnaum e tinha empregados que ajudavam a Zebedeu e seus filhos (Mc 1.20). A família não era pobre, mas integrada a uma rede comunitária de pesca.
e) João é reconhecido como uma das figuras mais significativas do NT, além de ser autor do Evangelho que recebeu seu nome, de três epístolas (I, II e III João) e do Apocalipse. Sua proximidade com Cristo e sua longevidade – morrendo por volta de 100 d.C., segundo a tradição – o tornaram um pilar da fé cristã.
f) João era natural da Galileia, uma das regiões da Palestina, conhecida por sua mistura cultural e resistência ao domínio romano. Nasceu entre 5 e 10 d.C., na vila de Betsaida (João 1.44).
g) João cresceu em um ambiente judaico tradicional, com expectativas messiânicas (chegada do Messias), acentuadas pela opressão romana.
h) Sua chamada, por Jesus, é narrada em Marcos 1.19,20, enquanto consertava redes com o irmão Tiago e o pai. Jesus os chamou para serem “pescadores de homens”. A resposta imediata dos irmãos, deixando tudo para seguir o Mestre, reflete não apenas fé, mas também um reconhecimento da autoridade de Cristo.
i) João rapidamente se destacou no círculo íntimo de Jesus, junto com Pedro e Tiago. Essa proximidade é evidenciada em momentos cruciais, como:
1) na Transfiguração (Mt 17.1,2);
2) na última Ceia, quando João reclinou-se próximo a Jesus (Jo 13.23);
3) no Monte das Oliveiras (Getsêmani) (Mc 14.32-41);
4) na crucificação, quando foi o único apóstolo presente ao pé da cruz, onde recebeu de Jesus a missão de cuidar de Maria (Jo 19.26,27);
j) O título “discípulo amado”, usado, exclusivamente, no Evangelho de João (Jo 13.23; 19.26), não indica favoritismo, mas uma relação de confiança e intimidade. Simboliza o ideal para todo e qualquer discípulo que compreende e testemunha o amor divino.
k) No Judaísmo do século I, a proximidade física com um mestre (rabino) denotava honra e autoridade (Jo 1.18, “no seio do Pai”).
l) Após a ascensão de Jesus, João atuou em Éfeso, de onde foi exilado para Patmos, uma ilha remota no Mar Egeu. Tradições afirmam que, após retornar do exílio, continuou seu ministério na Ásia Menor até morrer de causas naturais, por volta de 98 e 100 d.C., durante o reinado de Trajano (98-117 d.C.), o que aponta para uma longevidade incomum para a época, com cerca de 95 a 100 anos. João foi o único dos apóstolos a não morrer martirizado. Retornou a Éfeso após a morte de Domiciano, imperador romano que mais perseguiu os cristãos, que se recusavam a cultuá-lo.
m) A Bíblia não relata a morte de João. Em João 21.20-23, Jesus insinua que ele “permaneceria” até Sua volta, gerando especulações. No entanto, o próprio Evangelho esclarece que isso não significava imortalidade, mas uma referência ao propósito divino para sua vida.
n) João ficou conhecido como o Apóstolo do Amor, devido à ênfase a respeito do amor de Deus e do amor que os cristãos devem ter por todos, tanto no seu Evangelho, como em suas Epístolas (1ª, 2ª e 3ª João) e na maneira como retratou o amor divino em seus escritos. Veja nos textos abaixo:
1) O verso que resume o plano de salvação a partir do amor de Deus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que...” (João 3.16).
2) Jesus diz: “Um novo mandamento dou a vocês: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês amarem uns aos outros” (João 13.34,35 - NVI).
3) “Deus é amor” (1 João 4.8) resume o cerne da teologia joanina. Enquanto Paulo enfatiza a fé e a esperança (1 Coríntios 13.13), João coloca o amor como a essência do caráter divino e o teste de autenticidade da fé. Essa ideia revolucionou a ética cristã.
4) No amor prático: João insiste que amar a Deus exige amar o próximo (1 João 4.20), princípio que inspirou figuras como Francisco de Assis e Martin Luther King Jr.
5) Nos movimentos sociais: A ênfase no amor fraternal alimentou iniciativas como os hospitais medievais e na exaltação à compaixão.
o) Por outro lado, também foi conhecido, junto com seu irmão Tiago, como “filho do trovão”. “E a Tiago, filho de Zebedeu, e a João, irmão de Tiago, aos quais pôs o nome de Boanerges, que significa: Filhos do trovão” (Marcos 3.17). Esse apelido surgiu a partir de um incidente em que, diante da recusa de um grupo de samaritanos de acolher Jesus em sua aldeia, eles sugeriram a Jesus: “Senhor, quer que invoquemos fogo do céu para destruí-los?” (Lucas 9.54). Jesus não concordou com eles, mas os repreendeu. O apelido pode ser interpretado como uma referência bem-humorada a suas personalidades impulsivas ou, melhor, como uma indicação de seu zelo fervoroso, mas ainda imaturo, pela pessoa de Cristo.
p) João foi o discípulo que cuidou da mãe de Jesus. “Quando Jesus viu sua mãe ali, e, perto dela, o discípulo a quem ele amava, disse à sua mãe: ‘Mulher, eis aí o seu filho’, e ao discípulo: ‘Eis aí a sua mãe’. Daquela hora em diante, o discípulo a levou para sua casa” (João 19.26,27). Esse cuidado de Jesus seria porque, até aquele momento, os irmãos de Jesus não criam nele como Salvador.
q) João foi um pilar para a igreja primitiva, conforme referência de Paulo: “Tiago, Cefas (Pedro) e João, considerados como colunas da fé, estenderam a mão direita da comunhão a mim e a Barnabé quando consideraram a graça que me foi concedida. Eles concordaram que nós deveríamos nos dedicar ao ministério entre os gentios, enquanto eles se concentravam nos circuncidados” (Gl 2.7-9).
r) Tudo indica que João fora discípulo de João Batista antes de ser de Jesus. Essa conexão entre eles é sugerida em João 1.35-42, quando João Batista aponta Jesus como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, indicando que os dois discípulos que estavam com ele deveriam segui-lo. Após essa declaração, os dois tornaram-se seguidores de Jesus, mas João só menciona o nome de um, André. O outro pode ter sido o próprio João Evangelista.
s) Exilado na ilha de Patmos, no Mar Egeu, João recebeu visões extraordinárias que, mais tarde, ficaram registradas no Livro do Apocalipse, um livro profético que descreve os eventos futuros e o fim dos tempos, oferecendo consolo e orientação para os cristãos (Ap 1:9).
t) João morreu de velhice, por causas naturais, mas h á relatos apócrifos (não reconhecidos), que contam que o apóstolo foi obrigado a beber veneno durante uma perseguição em Roma. Milagrosamente, ele não morreu. Esse episódio inspirou a iconografia (pintura) conhecida de João segurando um cálice com uma serpente (símbolo do veneno neutralizado).
3. DATA DA ESCRITA
- Dos quatro Evangelhos do NT, o de João foi o último a ser escrito, ou seja, entre os anos 80 e 95 d.C. Nesse momento, a igreja primitiva estava se expandindo, enfrentando novos desafios doutrinários e organizacionais.
4. OBJETIVOS DO LIVRO
a) João deixa claro seu objetivo ao escrever seu livro: “Estas coisas foram escritas para que vocês possam acreditar que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e que, crendo nele, tenham vida” (Jo 20.31).
b) João escreve para cristãos, judeus e não judeus. As palavras “para que vocês creiam”, que parecem se dirigir a não crentes, podem significar “para que continuem a crer” ou “para que sejam firmados em sua fé”.
c) O propósito do Evangelho, portanto, foi fortalecer a fé, apresentar Jesus como o Filho de Deus e oferecer vida eterna aos que creem. Cada linha do Evangelho carrega esse propósito sublime.
d) É nítido, também, que o texto foi escrito para “combater o docetismo” (heresia que negava a humanidade de Jesus), já presente no final do primeiro século, bem como o gnosticismo (de gnoses, do grego, conhecimento) que defende a libertação da ignorância e não do pecado para a salvação.
5. FONTES USADAS POR JOÃO
a) É sugerido por João em 21.24, que o Evangelho foi baseado nas memórias do discípulo amado.
b) F. F. Bruce (autor do Comentário de João, Editora Vida Nova) escreve que o Evangelho reflete “uma tradição oral independente”, enraizada nas memórias do próprio João.
c) É possível, também, que João teve contato com o conteúdo dos três primeiros Evangelhos, escritos 30 anos antes, e não desejava ser repetitivo, mas acrescentar ensinos e eventos que não foram explorados por eles.
6. ESTILO LITERÁRIO
a) João organiza seu Evangelho com intenção didática e apologética (defesa), guiando o leitor da dúvida para a fé, do mistério para a revelação.
b) João trabalha recorrentemente com dualidades e termos contrapostos, que servem para intensificar as verdades espirituais que deseja comunicar, como: Luz x Trevas; Verdade x Mentira; Vida x Morte; Céu x Terra, por exemplo.
c) João procura usar uma linguagem simples para revelar mistérios profundos, carregados de significado espiritual.
d) Logo em sua introdução, João estabelece o direcionamento de sua obra:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus...” (Jo 1.1). Em vez de genealogias humanas ou relatos de nascimento, como nos outros Evangelhos, João remonta ao início dos tempos, apresentando Jesus como o Logos eterno. Essa abertura eloquente posiciona o Evangelho como uma ponte entre a criação, a revelação e a redenção.
7. TEOLOGIA MAIS APRIMORADA SOBRE A TRINDADE DIVINA
a) Expressões como “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30) e “Quem vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9) reforçam a unidade divina entre eles e destacam a missão trinitária de Jesus.
b) Ao longo do livro, João retrata Jesus como:
1) Divino, eterno e presente desde a criação;
2) Salvador cósmico, com impacto universal;
3) Fonte de vida eterna e vida abundante para todo aquele que crê;
4) Não apenas como um Profeta, Mestre moral e sensível às necessidades humanas, mas, também, como o próprio Deus encarnado, que veio ao mundo para revelar a verdade e oferecer a salvação eterna.
c) João usa a Alta Cristologia – um termo usado para descrever maior compreensão acerca da pessoa de Jesus Cristo como Deus, Palavra Eterna do Pai.
d) As promessas do Espírito Santo como o Paracleto (Consolador, Defensor e Ajudador) são exclusivas de João (capítulos 14 a 16). Nesse trecho, Jesus promete enviar o Espírito Santo para “ensinar todas as coisas e guiar os discípulos em toda a verdade”.
e) Portanto, João especifica a Trindade (ou Triunidade) Divina de forma mais doutrinariamente elaborada do que os outros Evangelhos.
8. DESTAQUES EXCLUSIVOS DE JOÃO
a) Somente em João são narrados, de modo mais vívido, pessoal e teológico, os seguintes episódios:
1) Jesus e a mulher samaritana (João 4);
2) a cura do cego de nascença (João 9); e,
3) a ressurreição de Lázaro (João 11).
b) João dedica capítulos inteiros a diálogos e discursos ausentes nos outros Evangelhos, como:
1) o “Logos” (João 1): João apresenta Jesus como o Verbo encarnado, uma ponte entre a teologia judaica e o pensamento grego;
2) o diálogo com Nicodemos sobre ‘nascer de novo’ (Jo 3);
3) o diálogo com a mulher samaritana (João 4);
4) o discurso do Pão da Vida (João 6) dedicado à explicação de que Jesus é o alimento espiritual essencial para a vida eterna;
5) o discurso de despedida (João 13 a 17): um conjunto de ensinos profundos e tocantes, onde Jesus prepara seus discípulos para sua partida e revela o coração de sua missão, fechando com a oração sacerdotal de Jesus por seus discípulos.
9. ESTRUTURA RESUMIDA DO EVANGELHO DE JOÃO
- Ao contrário da estrutura cronológica e narrativa dos Evangelhos sinóticos, o Evangelho de João apresenta uma composição temática e cheia de simbolismos e doutrinas já consolidas da fé cristã.
I. Prólogo (1.1-18)
II. 1ª. Parte – Livro dos Sinais (Milagres) (João 1.19 a 12.50).
III. 2ª. Parte – Livro de Glória – Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Jesus (João 13.1 a 20.31)
IV. Epílogo (João 20.30 a 21. 25).
10. OS SETE “EU SOU” DE JESUS
a) O uso de símbolos e metáforas é um dos principais recursos deste Evangelho para comunicar a identidade de Jesus, como o número sete, que significa um número completo ou perfeito na cultura judaica. Os “Eu sou” de Jesus são simbólicos e cheios de significado.
b) Cada uma dessas imagens revela uma faceta espiritual da missão de Jesus, tornando sua figura ainda mais multifacetada e acessível à fé.
c) Os “Eu Sou” são como que complementares à ausência de parábolas no Evangelho de João, bastante evidenciadas nos Evangelhos sinóticos. Estes são os “Eu sou” de Jesus:
1. “o PÃO DA VIDA” (João 6.35).
2. “a LUZ DO MUNDO” (João 9.12);
3. “a PORTA DAS OVELHAS” (João 10.7):
4. “o BOM PASTOR” (João 10.11);
5. “a RESSURREIÇÃO e a VIDA” (João 11.25);
6. “o CAMINHO, a VERDADE e a VIDA” (João 14.6);
7. “a VIDEIRA VERDADEIRA” (João 15.1).
11. OS SINAIS MIRACULOSOS
a) João chama os milagres de sinais. Estes milagres foram selecionados por João, como o próprio João disse, dentre os muitos: “Nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem” (João 21.25).
b) Os sete sinais (milagres) destacados por João, realizados por Cristo, antes de sua morte e ressurreição, servem como revelações da glória divina de Cristo. São eles:
1. Transformar água em vinho (João 2.1-11);
2. Cura do filho de um oficial (João 4.46-54);
3. Cura de um paralítico (João 5.1-15);
4. Multiplicação dos pães (João 6.1-15);
5. Jesus anda sobre as águas (João 6.16-21);
6. Cura de um cego de nascença (João 9.1-41);
7. Ressurreição de Lázaro (João 11.1-44).
c) Após a sua ressurreição, Jesus realizou mais um sinal (milagre) relatado por João: a pesca extraordinária (João 21.1-12).
12. DIFERENÇAS ENTRE O EVANGELHO DE JOÃO E OS SINÓTICOS
a) O Evangelho de João se distingue dos sinóticos. São assim chamados por serem semelhantes entre si (Mateus, Marcos e Lucas) e diferentes de João, conhecido pela expressão “Quarto Evangelho”, por seu estilo mais teológico (doutrinário) e reflexivo.
b) Em vez de narrar eventos de forma cronológica, João se concentra em revelar a identidade divina de Jesus, utilizando discursos e diálogos significativos e cheios de lições espirituais. Parte inferior do formulário
c) Enquanto os outros três dão destaque especial à Galileia, a maioria dos acontecimentos registrados por João ocorreu em e ao redor de Jerusalém, por ocasião de várias festas judaicas.
d) O Evangelho de João fala sobre “os judeus”, como se os discípulos de Jesus não fossem judeus. É provável que a maior parte de seus leitores não fosse de judeus, já que ele escreveu o seu texto em Éfeso. Ele usou essa designação (os judeus) para se referir às autoridades religiosas que se opuseram à fé cristã. Não era uma frase discriminatória, antissemita, pois o próprio João era judeu, e ele mesmo escreveu que “muitos dos judeus... creram” (Jo 11.45; 12.11; 42).
e) Em 90 e 100 d.C., o Evangelho de João surge como uma resposta mais amadurecida e fundamentada, depois de cerca de 60 anos de revelação do Espírito Santo sobre o que Jesus falou, nos anos 30 a 33 do séc. I. O Espírito Santo revelou muitas verdades, como Jesus mesmo disse que “o Consolador os guiaria em toda verdade”, principalmente em face do surgimento de novas heresias e questões teológicas, como a natureza de Cristo, o papel do Espírito Santo e a fé como meio de salvação.
f) Ao retratar Jesus como o “Verbo que se fez carne”, João revela Jesus como a encarnação do Logos divino, a Palavra criadora e eterna de Deus (João 1.1-14). Essa imagem teológica é inovadora e poderosa, diferente da abordagem mais narrativa e histórica dos Evangelhos sinóticos. João mostra, além da aparência humana de Jesus, sua essência divina.
g) O Evangelho de João não narra parábolas de Jesus, mas apresenta analogias, como os sete “Eu sou”, que se assemelham a parábolas. Também não narra casos de libertação de possessão demoníacas.
h) João diz que Jesus carregou a cruz até o Gólgota, enquanto os outros Evangelhos dizem que Simão, de Cirene, carregou a parte final do trajeto. João poderia ter entendido que não foi relevante, por não conhecer o resultado que isto teve na família de Simão (Mc 21.16 e Rm 16.3).
i) O Evangelho de João contém muitas informações valiosas que não são encontradas em outro lugar. Isso inclui os relatos das primeiras visitas de Jesus a Jerusalém, várias histórias importantes de milagres e detalhes adicionais sobre a crucificação e a ressurreição. João também fornece algumas informações adicionais exclusivas sobre figuras importantes, como Maria Madalena, Pôncio Pilatos, Tomé e Judas Iscariotes.
j) No Evangelho de João, a palavra para “milagre” (shmeion) significa algo que acontece no mundo físico, mas tem conexão e lição espiritual. Ao passo que nos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) a palavra ‘sinal’ geralmente se referia a um indício acerca do fim do mundo (Mc 8.11). Os milagres denotam a presença do Reino de Deus (Mt 12.28), mas em João os milagres (sinais) apontam para a natureza de Jesus. Os sinais de Jesus em João, quando recebidos pela fé, revelam a glória de Deus, porque eles são as obras de Deus (2.11; 5.36; 9.3; 17.3,4 e 20.30,31).
13. OUTRAS CURIOSIDADES
a) O Evangelho de João é o livro bíblico mais lido em todos os tempos. Além de constar entre os 27 livros do NT e entre os 66 de toda Bíblia, também foi reproduzido separadamente (avulso) em milhões de cópias, para ser distribuído na obra de evangelização, pois o Evangelho de João tem o mais completo ensino sobre o plano da salvação.
b) ‘Filho do homem’, em João, é a descrição favorita que Jesus usa para se referir a si mesmo. O título ecoa da visão de Daniel sobre o futuro rei (Dn 7.13,14) e de como o profeta Ezequiel era chamado por Deus.
c) Das sete comemorações judaicas (Páscoa; Pão sem fermento ou pães ázimos; Primícias ou colheita; festa das Semanas ou Pentecostes; festa das Trombetas; Dia da Expiação ou Yom Kipur e festa dos Tabernáculos ou Cabanas), há registro no Evangelho de João da participação de Jesus e seus discípulos, em Jerusalém, de no mínimo três festas obrigatórias, como: a Páscoa (Jo 2.13; 6.4 e 11.55); o Pentecoste (João 10.22) e Tabernáculos ou tenda (João 7.2). Cumpriram a lei judaica, que dizia que todo o judeu, anualmente, deveria ir a Jerusalém para cumprir o que determina a Lei. Também, há registro da participação deles na festa da Dedicação (Jo 10.22).