Introdução
- “Ó Deus, quebra-lhes os dentes na boca” (Sl 58.6).
- “Consome-os com indignação, consome-os, de sorte que jamais existam” (Sl 59.13).
- “Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizeste. Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra” (Sl 139.8,9).
- “Caiam sobre eles brasas vivas, sejam atirados ao fogo” (Sl 140.10).
- São Salmos que invocam a ira e o castigo divinos sobre os inimigos de Deus e de seu povo.
- São os que suplicam pela vingança dos justos e clamam para que Deus castigue os ímpios.
- São salmos chocantes, constrangedores para a nossa cultura cristã.
- São considerados imprecatórios os seguintes salmos ou porções: 7, 28.4, 35, 54.5, 55.15, 56.7, 58, 59, 69, 79, 83, 109, 137, 139 (14 salmos).
- Muitos consideram tais salmos em conflito com o NT, com o amor de Cristo, que orou por seus inimigos: “Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34), e com a oração de Estêvão: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (At 7.60).
1. A indignação deles é lícita, pois resulta de opressões injustas que sofreram na pele.
2. É preciso levar em conta o contexto histórico em que esses Salmos foram escritos.
a) Alguns Salmos são anteriores até mesmo à Lei de Moisés; outros são contemporâneos à Lei.
- Nesse tempo, não havia, ainda uma revelação plena dos planos de Deus e, principalmente, dos planos de Deus para o julgamento final, quando os perversos serão plenamente punidos pela justiça divina.
b) A base da justiça bíblica na época dos Salmos era a da Lei retributiva: “olho por olho, dente por dente”.
- Pagamento proporcional, igual ao sofrimento recebido.
- “Prenda-o a rede que ocultou; caia ele nessa mesma destruição” (Sl 35.8).
3. As imprecações fazem parte dos Salmos e não é possível tirá-las fora do seu contexto como não sendo inspiradas.
- Aqui inspirado, aqui não, no mesmo Salmo.
- O NT cita os salmos que contêm versos imprecatórios como dignos de autoridade e assim reconhece que tais salmos são inspirados.
- Romanos 3.13,14 cita o Salmo 5.9 (v. 10 é imprecatório); o Salmo 140.3 (v. 10 é imprecatório) e o Salmo 10.7 (v. 15 é imprecatório).
4. Os salmistas identificaram a guerra (maldade) contra Israel como uma guerra contra o Deus da Aliança de Israel
“Lembra-te de como o inimigo tem zombado de ti, ó Senhor, como os insensatos têm blasfemado o teu nome. Não deixes que o oprimido se retire humilhado! Faze que o pobre e o necessitado louvem o teu nome. Levanta-te, ó Deus, e defende a tua causa; lembra-te de como os insensatos zombam de ti sem cessar” (Sl 74.18,21,22).
“Derrama a tua ira sobre as nações que não te reconhecem, sobre os reinos que não invocam o teu nome, pois devoraram Jacó, deixando em ruínas a sua terra” (Sl 79.6,7).
“Retribui sete vezes mais aos nossos vizinhos as afrontas com que te insultaram, Senhor! Então nós, o teu povo, as ovelhas das tuas pastagens, para sempre te louvaremos; de geração em geração cantaremos os teus louvores” (Sl 79.12,13).
- Os inimigos dos salmistas são os inimigos de Deus: “Acaso não odeio os que te odeiam, Senhor? E não detesto os que se revoltam contra ti?” (Sl 139.31).
5. No NT também há textos imprecatórios
- Paulo escreveu: “Se alguém não ama o Senhor, seja anátema (amaldiçoado)” (1Co 16.22 e Gl 1.9).
6. Os salmos imprecatórios não sugerem que o ser humano pode se vingar e retaliar, mas que Deus faz isso.
- Em nenhuma parte, esses Salmos querem tomar vingança em suas próprias mãos. Eles apenas pedem a ira de Deus.
“Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: Minha é a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário: Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele. Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Rm 12.19).
- Isto significa que só o inocente em relação ao seu inimigo pode deixar a vingança com Deus.
7. O amor aos inimigos também é da responsabilidade de Israel
- “Não se alegre quando o seu inimigo cair, nem exulte o seu coração quando ele tropeçar, para que o Senhor não veja isso, e se desagrade, e desvie dele a sua ira” (Pv 24.17).- “Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele, e o Senhor recompensará você” (Pv 25.21,22).- Há distinção entre praticar o amor e sentir o amor.
- É o que você faz por alguém, não o que você sente por alguém, que determina o seu amor.
- Cristo nos exortou a praticar o amor, não necessariamente sentir amor.
- É lícito expressar nossa ira diante de Deus e ainda continuar a praticar atos de amor para com os nossos inimigos.
- Até os santos no Céu, onde não há ausência de santidade (Hb 12.15), clamam “até quando?”.
“Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completassem o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram” (Ap 6.9-11).
8. Na era do Evangelho da graça, os juízos sobre os inimigos do povo de Deus estão, em misericórdia, adiados ao juízo final, ainda que pontualmente possam ser, como são, executados.
- Estas orações serão cumpridas no dia em que Cristo será Juiz (Mt 25.31 e Ap 19.2).
- A graça de Cristo intensificou ainda mais o amor de Deus pelo ser humano pecador.- “Vocês ouviram o que foi dito: Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem” (Mt 5.43,44).
- Os salmos imprecatórios nos apontam para Cristo. Quando cada pessoa morre ou no final dos tempos, em sua volta, punirá os maus e reivindicará justiça e salvação para o seu povo. Amém.