Houve entre eles tal desavença que vieram a separar-se um do outro. Então Barnabé, levando consigo Marcos, embarcou para Chipre.

Atos 15.39

O que houve, afinal, entre Paulo e Barnabé — dois gigantes da obra missionária da igreja primitiva? A palavra grega usada para “desavença” em Atos 15:39 é paroxysmós (παροξυσμός), que indica uma irritação intensa, um desacordo veemente. Foi um conflito real e profundo entre dois homens maduros e cheios do Espírito Santo — mas que enxergavam a situação a partir de perspectivas diferentes. Se irmãos de hoje testemunhassem aquela cena, talvez perguntassem: “Por que estão brigando?” Esse episódio pode até escandalizar alguns, afinal, como pode um homem tão espiritual como Paulo — cheio dos dons e capacitações do Espírito — envolver-se numa contenda, sendo ele mesmo quem depois exorta os crentes a evitarem discussões? Mas tudo foi escrito para nossa edificação. A Bíblia abre janelas como essa para que, ao olharmos para dentro da narrativa, também enxerguemos a nós mesmos. E, acima de tudo, reconheçamos que grandes líderes são, antes de tudo, humanos: falhos, limitados, lutando diariamente contra sua própria natureza e orgulho para serem úteis nas mãos de Deus. Não cabe aqui decidir quem estava certo, Paulo ou Barnabé. Esse não é o foco. O fato é que Deus escolheu trabalhar com homens, não com anjos. E por isso, devemos rejeitar qualquer visão de espiritualidade doentia que se julga superior aos próprios autores inspirados da Palavra. D. A. Carson observa com clareza: “A ruptura entre Paulo e Barnabé nos lembra que desentendimentos entre crentes maduros são possíveis — e, às vezes, inevitáveis — mas a missão de Deus não depende da perfeição relacional dos seus servos.” Concluo explicando o título: a desavença é natural porque faz parte da convivência humana — e porque não vem do Espírito, mas da natureza humana. Que o Deus da paz nos livre da contenda e nos ensine a caminhar em unidade, mesmo diante das divergências. Amém.

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ELP